Vírus
e bactérias são vistos como culpados sempre que surge uma dor dentro do pescoço
— e a incriminação muitas vezes é justa. Mas há casos em que esses suspeitos
são erroneamente acusados, encobrindo ameaças perigosas
Ar seco e variações
de temperatura anunciam a fase das estações mais áridas, que começam no outono
e se encerram no inverno. Tais condições climáticas, por aumentarem o risco de
uma falha das barreiras protetoras do organismo, também criam o contexto ideal
para um crime cometido por micro-organismos: a invasão desautorizada da
faringe, da laringe ou das amígdalas, que culmina em tormentos para falar,
engolir... Apesar de minúsculos em tamanho, os vírus carregam o título de
maiores baderneiros dessa região — patrocinam ao menos 85% das irritações ali.
Se por um lado essa gangue possui a
atenuante de geralmente não ser muito agressiva, por outro serve como porta de
entrada às bactérias, essas bem mais prejudiciais e, logo, mais dolorosas.
"Os vírus consomem as células de defesa. É como se eliminassem o exército
que combateria outros agentes nocivos".
Com o intuito de dar fim a esses
problemas, cientistas trabalham arduamente no desenvolvimento de medicamentos.
Para debelar as bactérias, já criaram antibióticos — para o bem e para mal, já
que são usados além da conta.
Se no ramo da prevenção há poucas
novidades — continuam a vigorar leis como lavar as mãos e evitar contato mais
direto com doentes —, na área de controle dos sintomas desponta uma nova
aliada: a pastilha de flurbiprofeno, recentemente lançada no Brasil. "Essa
substância ameniza a dor como poucas e é segura.
Antes da década de 1940, qualquer
desconforto na garganta era sinônimo de preocupação. Afinal, os antibióticos
não estavam disponíveis e, com isso, bactérias se multiplicavam sem grande
resistência. Uma simples dor podia abrir brecha, por exemplo, para os micróbios
por trás da febre reumática, capaz de afetar as juntas e o coração. Se hoje já
não existe o temor excessivo, isso não significa que uma dor de garganta mereça
pouco-caso — especialmente se durar mais de uma semana.
"A dor prolongada pode ser
resultado até mesmo de um câncer". "Se ela não melhora ou vem
acompanhada de engasgos, dificuldade para engolir e rouquidão, consulte um
médico.
Aliás, até aí o transtorno pode ser
desencadeado por um vírus: desta vez, contudo, a gente está falando do HPV.
Bastante ligado a problemas nos órgãos genitais, ele, ao adentrar a boca, pode
se instalar na garganta e, aos poucos, danificar suas células. Só para citar
uma estatística, quem já fez sexo oral com mais de seis parceiros possui um
risco 3,4 vezes maior de desenvolver câncer de garganta. "Está aí uma das
razões pelas quais mais jovens vêm apresentando com maior frequência esse tipo
de tumor".
Ingerir álcool demais, assim como
fumar, é outro grande fator de risco ao desenvolvimento do câncer dentro do
pescoço. "Bebidas alcoólicas promovem uma hiperacidez no estômago, o que
pode causar refluxo, gerando danos na garganta". "Isso sem contar que
o álcool é, por si só, abrasivo".Em outras palavras, se uma queimação sem
motivo aparente der as caras, talvez seja bom maneirar nos copos de cerveja ou
nas taças de champanhe.
Não
é só o câncer que pode ficar camuflado por trás de sintomas dolorosos no
pescoço. Nem sempre infecções pelos vírus da gripe e do resfriado estão por
trás do sintoma. Elas são, de fato, bastante comuns, principalmente na
infância. Também pudera: as partículas perniciosas veem na amígdala uma de suas
primeiras moradias dentro do organismo. Mas, não custa repetir, sempre é bom
confirmar o diagnóstico com um medico. Nódulos inchados no pescoço,
muitas vezes confundidos com amigdalite, podem ser traço da mononucleose. Essa
tremenda chateação, geralmente fruto do vírus Epstein-Barr, causa calafrios,
náuseas e dores pelo corpo todo. Pior: demora a nos deixar em paz. Em média,
suas consequências repercutem por dez dias.
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E não é só isso que uma aparente amigdalite
pode acobertar. Em casos mais raros, um inchaço doído significa o surgimento de
uma doença hematológica, ou seja, problemas sérios no sangue. "Diferenças
grandes de tamanho entre uma amígdala e outra às vezes sinalizam até uma
leucemia".. Nesse caso, é como se os anticorpos alojados na região também
adoecessem, contribuindo para uma espécie de inflamação — e, por conseguinte,
para a dor.
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Tudo isso, contudo, está longe de ser motivo
para pânico. Desde que você fique atento aos indícios e, mais do que isso, à
duração do incômodo, manter a integridade da garganta e, consequentemente, de
todo o resto do organismo não é uma tarefa complicada. Basta ouvir o que o
corpo tem a dizer.
Veja como a
pastilha interfere no processo infeccioso
> 1. A invasão Os famigerados
vírus e bactérias entram na garganta pela boca ou pelo nariz. De lá, chegam a
diferentes áreas e começam a fazer estragos.
> 2. A repressão O sistema
imunológico responde ao ataque enviando seus policiais, ou melhor, suas células
de defesa, para o local afetado. Então começa a briga.
> 3. A consequência Na confusão, enzimas
chamadas ciclo-oxigenases produzem prostaglandina, um mediador químico que faz
os nervos enviarem sinais dolorosos ao cérebro.
> 4. O efeito da nova pastilha O flurbiprofeno,
seu princípio ativo, corta a concentração de prostaglandina pela metade por
desligar boa parte das ciclo-oxigenases. Aí, os nervos são menos ativados.
> Quando tirar as amígdalas
> A recomendação é só extrair essas estruturas
em crianças em casos de infecções muito graves. "Nessa fase da vida, elas
funcionam como importantes escudos". "Já nos adultos, perdem parte de
sua função. Portanto, se houver algum problema crônico, costuma-se optar por
removê-las".
> Mitos e verdades sobre a dor de garganta
> Ela pode evoluir para conjuntivite
> Verdade: Os micro-organismos que atacam a
faringe não têm preconceito: eles afetam qualquer mucosa, inclusive a dos
olhos. Por isso, quando estiver doente, não ponha as mãos na boca e, depois,
perto das pálpebras.
> Tomar sorvete causa dor
> Mito: No máximo, alimentos e bebidas geladas
constringem os vasos, dificultando a chegada de células de defesa. Isso,
todavia, não gera irritação por si só.
> Beber água ajuda a prevenir e a tratar o
desconforto
> Verdade: O tal muco é composto de 95% de H20.
Na falta de líquido, essa barreira natural se torna espessa e, portanto, menos
eficaz. Está aí outro argumento para não ficar com sede.
> Gargarejo com água morna, sal e vinagre
combate os micro-organismos
> Mito: Misturas como essa alteram o pH da
garganta. Como é sensível à acidez, ela pode até se irritar com o enxágue, o
que só serve para piorar a infecção.
> Sair de um ambiente quente para outro frio e
seco sem se agasalhar gera mais dor
> Verdade: Essa troca resseca o muco protetor.
Desidratado, ele não intercepta as partículas nocivas, que passam a agredir o
local. Um casaco atenua a mudança brusca de clima.